A escolha do nome Leão XIV pelo novo Papa não foi aleatória. Ela remete a Leão XIII , o pontífice que trouxe São Tomás de Aquino de volta ao centro do pensamento católico, reafirmando a razão como aliada da fé. Contudo, sua postura interiorizada e aberta ao mistério espiritual revela igualmente a influência profunda de Santo Agostinho, o pensador da alma inquieta que crê para compreender. O novo Papa parece unir, em seu nome e em sua missão, dois grandes pilares da tradição cristã : a Patrística, de base platônica e mística , e a Escolástica, de matriz aristotélica e racional. 5aw6a

Trata-se de uma fusão simbólica entre Agostinho e Tomás de Aquino. Entre fé intuitiva e razão argumentativa. Entre o coração e o intelecto. Essa síntese filosófica e teológica é mais do que um gesto intelectual: é um ato profético diante de um mundo em convulsão.

Vivemos tempos de tensões extremas — guerras, intolerância, fanatismos e polarizações políticas. A humanidade parece atravessar uma noite escura, desorientada e emocionalmente fraturada. O Papa Leão XIV, nesse cenário, assume o papel de pontífice no sentido original da palavra: aquele que constrói pontes. E essas pontes não se limitam à doutrina. Elas buscam religar o que foi separado: ciência e fé, razão e espiritualidade, tradição e inovação.

A oração emerge, nesse cenário, como exemplo claro de reconciliação entre fé e razão — por séculos vista como ato puramente espiritual, hoje começa a ser reconhecida pela medicina e psicologia por seus efeitos terapêuticos, mostrando que espiritualidade e ciência podem convergir.

Ao evocar Agostinho , Leão XIV resgata uma espiritualidade enraizada na interioridade e na escuta da alma . Ao ecoar Tomás de Aquino , reafirma que a fé não exclui a razão — ao contrário, a integra e a impulsiona. Essa postura não representa apenas uma retomada teórica, mas uma proposta concreta de entendimento: a espiritualidade como fonte de sentido, e a razão como instrumento de discernimento.

Se Leão XIII falou à razão moderna, Leão XIV pode ser a voz da reconciliação neste tempo de ruído. Um Papa filósofo. Um Papa da escuta. Um Papa da paz.

Mauro Falcão, escritor brasileiro